Monumental- O "Gigante" dos anos 50

O Monumental e o seu nome diz tudo: grandeza, imensidão, colossal...um enorme ponto de referência de Lisboa, mais concretamente na Praça do Saldanha, onde existiu durante largos anos.

Cinema Império - Outro "Gigante" Lisboeta

Em Maio de 1952, seria inaugurado o Cinema Império, localizado na Alameda D. Afonso Henriques, que contou com as presenças de diversas individualidades importantes da altura.

EDEN - O "GIGANTE" dos Restauradores

O novo Éden Teatro foi inaugurado em 1937 com a apresentação da peça "Bocage", interpretada pelo actor Estevão Amarante, numa cerimónia memóravel presidida pelo Chefe de Estado, o Marechal Carmona.

Cinema Vale Formoso: Para quando a sua reabilitação?

Entre as décadas de 1950 e 1970, este cinema (a par de outros como o Júlio Dinis, Terço, Passos Manuel, etc.) foi considerado como uma das salas de referência da cidade do Porto, tendo sido explorado pela Lusomundo.

Águia De Ouro - Clássico do Porto

Em 1930 viria a inaugurar-se o cinema sonoro com o filme All That Jazz com Al Jolson. O Águia d'Ouro seria então considerada uma das melhores salas do Porto.

14.4.24

Cinemas do Paraiso: Portalegre

No seguimento do desafio lançado por Frederico Corado (filho do lendário realizador, crítico e amante de cinema, Lauro António), membro do grupo de Facebook "Cinemas do Paraíso", irei viajar nas memórias de alguns espaços míticos na cidade de Portalegre (localidade onde Lauro António estudou, de 1951 a 1958), dedicados ao teatro e cinema.

Inicio com o Teatro Portalegrense, que se situa no Largo Visconde de Cidrais, Travessa do Teatro, bem no centro da cidade. Foi inaugurado a 20 de junho de 1858, segundo o projecto arquitectónico de José de Sousa Larcher, nome ilustre da arquitectura na época. Na sua inauguração foi representado o drama "Alfageme de Santarém", de Almeida Garrett, por uma companhia profissional.

Fachada do Teatro Portalegrense (©️ SIPA) 

Fachada do Teatro Portalegrense (©️ SIPA) 

Arquitectónicamente, este edificio foi inspirado no Teatro Ginásio de Lisboa, na sua versão oitocentista. E como tal funcionou, nessa época onde os Teatros da Província serviam para exibição dos espectáculos de Lisboa em tourné nacional e de suporte a grupos e companhias locais. Foi o primeiro edificio a ser contruido para teatro em Portalegre, sendo o sexto teatro mais antigo do País ainda subsistente em Portugal.

Em 1906, assistiu-se à introdução do cinematógtafo neste teatro, com  a organização de 3 sessões. Em 1908, e após diversas beneficiações, este teatro dispunha de um auditório que acomodava o público em 5 frisas, 15 camarotes de 1ª ordem, 15 de 2ª ordem, 45 fauteils, 48 lugares superiores, 84 de geral e 2 galerias. Em 1910, foram feitas beneficiações nas áreas da circulação (vestibulo, portas e escadas da plateia) e de apoio ao publico (bilheteira e restaurante). 

Interior do Teatro Portalegrense (©️ Publico, 2019) 

Interior do Teatro Portalegrense (©️ Tribuna Alentejo, 2022) 

Interior do Teatro Portalegrense (©️ NIT, 2019) 

Interior do Teatro Portalegrense (©️ Sábado, 2019) 

Interior do Teatro Portalegrense (©️ Sábado, 2019) 

Interior do Teatro Portalegrense (©️ Sábado, 2019) 

Interior do Teatro Portalegrense (©️ Sábado, 2019) 

No final da década de 1920, assiste-se a uma decadência progressiva deste teatro, que ficou à margem da dinamização cultural e recreativa, que se desenvolveu em Portalegre, através e outros espaços e circuitos de produção. É por esta altura que, neste teatro, começa a exibir-se filmes, sem que por isso se dispusessem de equipamentos adequados e concebidos  de acordo com os novos modelos  construtivos e arquitectónicos. É neste contexto que surge a ideia da construção de uma nova sala de espectáculos.

Na década de 1940, é considerado como um espaço incapaz para local de espectáculo pela Inspecção-Geral dos Espectáculos, que autoriza o seu funcionamento condicionado, acentuando a degradação da sua estrutura.

Anúncio de Revista Vaudeville "O Pé Descalço" de 1941 (©️ Museu do Fado) 

Nas décadas seguintes, acentuou-se a decadência e degradação deste teatro. Segundo Lauro António, era um teatro antigo (algo arruinado), influenciado pelo estilo italiano, na vertical, composto por plateia, frisas e camarotes. Existiam normalmente 4 sessões semanais (3ª, 5ª feiras, sábado e domingo) e, ocasionalmente, teatro. As companhias de revista, comédia ou drama faziam digressões pelo Pais, incluindo Portalegre no itinerário. Foi aqui que a actriz Amélia Rey Colaço subiu ao palco pela última vez, em 1985, com a peça "El-Rei Sebastião", de José Régio, outro ilustre nome de Portalegre.

Na década de 1980, este teatro foi destruído interiormente, para nele ser instalado um ringue de patinagem, insolitamente rodeado de camarotes. Também serviu de sede para o Grupo Desportivo Portalegrense, fundado em 1925 e para a IURD. 

Este teatro foi classificado como Monumento de Interesse Municipal, através do Aviso n.º 14188/2019, n.º 175 de 12 de setembro 2019, incluido na área protegida da Serra de São Mamede. Foi colocado á venda a partir de 2013. Em 2019 estava à venda no OLX por 350 mil euros, mas até ao momento ainda não foi comprado.

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Em 1932, a escritura de compra e venda do Teatro Portalegrense realizada pela sociedade proprietária ao empresário Jorge Frederico Vellez Caroço, estipulava que não poderia ser dado outro uso a este imóvel, sem que previamente se edificasse uma nova casa de espectáculos em Portalegre. Convém salientar que Vellez Caroço (um antigo oficial do Exército, deputado e senador da I República) geria na época todas as casas de espectáculo da cidade, nomeadamente o Cine Parque Caroço, uma estrutura instalada na cerca da antiga "Fábrica Real" (actualmente, Câmara Municipal), junto ao Jardim da Corredoura, inaugurada em Agosto de 1930.


Local do antigo Cine Parque (©️ Portalegre Abandonada, 2016) 

Local do antigo Cine Parque (©️ Portalegre Abandonada, 2016) 

Local do antigo Cine Parque (©️ Portalegre Abandonada, 2016) 

Segundo Lauro António, este cinema abria nas noites quentes de Verão e propiciava experiências magnificas, como ver um filme numa esplanada ao ar livre, com refrigerantes na mesa, correndo-se o risco de levar com uma chuvada de Verão.

Tinha quatro classes de lugares com os seguintes preços: "Reservados" - 4$00 e 5$00; "Cadeiras" - 3$50; "Superior" - 2$50; "Geral" - 1$50. Também tinha um bar para as pessoas se refrescarem do calor, sendo um espaço para as pessoas se reunirem. À entrada do recinto compravam-se rebuçados e amendoins, para consumo na sessão de cinema. Havia casa cheia quatros vezes por semana (3ª e 5ª feiras, Sábado e Domingo). Actualmente, o espaço encontra-se ao abandono.

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Segundo Lauro António (2021), o Cine Teatro Crisfal, localizado ao cimo do Jardim da Corredoura, era um edificio típico da década de 1950, inserido na febre dos Cine-teatros existentes no país, em réplicas inspiradas no Cine-teatro Monumental em Lisboa. 

Lauro António, então adolescente, assistiu à sua inaguração a 29 de setembro de 1956, com uma actuação da companhia Amélia Rey Colaço-RoblesMonteiro, que, para assinalar o facto, permaneceu neste espaço durante uma pequena temporada, com duas ou três peças do seu repertório. 

Placa de inauguração de 29-09-1956 (©️ Discoteca Crisfal, 2006)

Este edificio foi obra de iniciativa privada, construído por um conhecido industrial de Santo António das Areias. A designação "Crisfal", advém da obra poética de Cristóvão Falcão, poeta nascido em Portalegre, ao que se supõe, entre 1515 e 1518, no seio de uma família nobre. Foi uma personagem curiosa, aventureira e talentosa, tendo sido educado no Paço, desde novo, onde aprendeu Belas Artes e casou com uma menor sem consentimento dos familiares, o que o levou á prisão durante 5 anos no Castelode São Jorge, em Lisboa. Ao sair, procurou pela amada que se encontrava no Mosteiro do Lorvão e iniciou a sua éscrita da écloga "Crisfal", que retrata a paixão arrebatadora por essa mulher. Em 1542, o Rei D. João III, para evitar escândalos, envia Cristóvão para Roma como seua gente particular. Regressado ao reino, é despachado em 1545 como capitão da fortaleza de Arguim em África. Novamente no continente, volta a ser preso em 1547, por agressão a um fidalgo. Em 1551, é perdoado, casando 2 anos depois com Isabel Caldeira, perdendo-se o seu destino a partir daí, tal como acontece com o herói no final da écloga "Crisfal", cujo nome tudo indica que seja criptónimo de Cristóvão Falcão. Esta obra foi publicada entre 1543 e 1546, numa folha volante e, mais tarde, em volume. 

O Cine-teatro Crisfal, projectado pelo Arqt.º Domingos Alves Dias, em colaboração com o Eng.º Raul Dias Subtilé um edificio de 2 andares, que apresenta uma arquitectura modernista, cultural e recreativa, com linhas rectas, volumes articulados, decoração despojada, com relevo e pinturas monumentais na fachada e paredes. A sua sala de espectáculos é composta por plateia, frisa, 1º e 2º balcões, placo, teia e cávea. A plateia divide-se em pares e ímpares, com 22 filas com 12 lugares cada. Contem frisas ao fundo, quatro de cada lado da entrada. O 1º balcão é suportado por 8 colunas  lisas e estreitas, dividido em pares ímpares, com 10 filas com 12 cadeiras cada. O 2º balcão com cinco filas de cadeiras. O palco contém uma cávea por baixo, boca de cena com moldura azul e dourada, écran de projecção na parede, ao fundo, e teia com varandim, com 3 janelas para o exterior, junto ao tecto.


Plantas do Piso 0 e 1 do Cine-teatro Crisfal (©️ Frederico Corado)














Imagens exteriores e interiores do Cine-Teatro Crisfal (©️ SIPA, 2001)

Durante décadas, este cine-teatro manteve o cinema, teatro, a música, a dança, os bailes de finalistas e de Carnaval, chegando a albergar entre 1988 e 1990 um Festival de Cinema, organizado por Lauro António, no mês de Outubro, numa época em que nenhum particular conseguia assegurar o funcionamento da sala com lucro previsivel. Apesar da sua estrutura arquitectónica ser notável, era um edificio que, nos finais da década de 1980, encontrava-se em mau estado de conservação, com cadeiras pouco confortáveis e um aquecimento central arcaico (que gastava imensa electricidade e e não aquecia convenientemente, chegando os espectadores a levar cobertores para a sessão de cinema).

Imagens exteriores e interiores do Cine-teatro Crisfal em 1989 (©️ Frederico Corado)

O "Festival Internacional de Cinema Portalegre" realizou-se por 3 vezes, com ajuda camarária, apesar do acordo que nunca se fez para a compra do imóvel. Para manter a sala aberta e assegurar a continuidade do festival, por mais 2 anos, Lauro António teve de gerir este cine-teatro, com os seus custos associados. Apesar disso, conseguiu aguentar 2 temporadas e 2 festivais, onde perdeu imenso dinheiro, com fins-de-semana de lotação esgotada, mas com perto de 11 empregados de sala que não podiam ser despedidos e filmes a cobrarem mais de metade da receita, para além dos custos astronómicos com lâmpadas que se fundiam rapidamente e artigos de higiéne. Contudo, Lauro António assume que "foi uma experiência curiosa, só possivel pelo cruzar de duas paixões: o cinema e Portalegre" (2021).  



Cartazes do Festival Internacional de Cinema Portalegre (1988-1990 ©️ Frederico Corado)

Programa do 2º Festival Internacional de Cinema Portalegre - 1989 (©️ Frederico Corado)
 



Imagens cedidas por Frederico Corado

Em 2007, quando visitou Portalegre, Lauro António cruzou-se com a filha do tal industrial de Santo António das Areias, proprietário do edificio,  que lhe explicou o projecto que tinha em mente para manter o edificio activo, com outras funcionalidades, nomeadamente uma discoteca, bar e estúdio por forma a cativar os jovens da região. Esta nova vida durou somente 5 anos.




Imagens do interior da Discoteca Crisfal (©️ Blogue da Discoteca Crisfal, 2006)

Com a inauguração do Centro de Artes e Espectáculos a 5 de novembro de 2006, e com a exibição de filmes também no Museu das Tapeçarias, este cine-teatro assinou o seu atestado de morte como sala de espectáculos. Em 2017, este edificio encontrava-se à venda no OLX, tendo sido classificado como Monumento de Interesse Municipal, no Aviso n.º 8595/2022, DR, 2.ª série, n.º 81 de 27 abril 2022. Incluído na Área Protegida da Serra de São Mamede.

Lauro António (2021) recorda como era viver a experiência cinematográfica na década de 1950 em Portalegre. Os cinemas publicitavam as suas sessões nos jornais locais, mas sobretudo numas folhas volantes em A4, de fina textura, quase transparentes, que se distribuiam na sessão anterior e depois pelas mesas dos cafés mais frequentados, sendo impressas na Tipografia Casaca.


Fontes:

ANTÓNIO, Lauro. Masterclasse - Os filmes que eu amo: "A Última Sessão". Em Fórum Luisa Todi, 2021. <https://www.forumluisatodi.pt/wp-content/uploads/2021/10/FolaSala-UltimaSessao.pdf>;

ANTÓNIO, Lauro. Tempo de Liceu em Portalegre. Em blogue "Lauro António apresenta...", 2007. <https://lauroantonioapresenta.blogspot.com/2007/06/tempo-de-liceu-em-portalegre.html>;

CÂMARA MUNICIPAL DE PORTALEGRE. Edificios Modernistas. Actual. <https://www.cm-portalegre.pt/visitantes/turismo/patrimonio-cultural/edificios-modernistas/>;

CARDOSO, Berta. Teatro Portalegre, Revista Vaudeville "O Pé Descalço" 1941. Em Museu do Fado <https://www.museudofado.pt/en/collection/poster/teatro-portalegrense-revista-vaudeville-o-pe-descalco-1941-en>;

CRUZ, Duarte Ivo. Os problemas do velho Teatro Portalegrense. Em e-cultura.pt. <https://www.e-cultura.pt/artigo/23941>;

LARGO DOS CORREIOS. Maria Barroso - Sob o signo de Benilde - seis. Em blogue "Largo dos Correios", 2015. <https://largodoscorreios.wordpress.com/2015/08/12/maria-barroso-sob-o-signo-de-benilde-seis/>;

PORTALEGRE ABANDONADA. Cine Parque. <https://www.facebook.com/100063504799127/posts/538626232979691>;

SIPA. Edificio do Cine-teatro Crisfal. 2001. <http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=10749>;

SIPA. Teatro Portalegrense. 2005. <http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/SIPA.aspx?id=21346>;

TRIBUNA ALENTEJO. Teatro Portalegrense continua à venda e ao abandono. 2022. <https://tribunaalentejo.pt/artigos/teatro-portalegrense-continua-a-venda-e-ao-abandono?fbclid=IwAR1GN-sjkTaan02FIKq5R_zlJ_Vh583inmV-yYWFljCN0OJ5CWnB8bqcGbA_aem_AZu05CqEGF7tg_9CgjaK2RR5uasH3hMnl8B9tB83TQnBoggX7yR4-CH-ahUJ-dDHpacuy5gckl7s3CHorRJUrRRI>;

UMBELINO, Lina. Desculpe, sabe onde fica o centro? Lisboa: Primeiro Capitulo, 2023. <https://books.google.pt/books?id=i_jpEAAAQBAJ&pg=PT35&lpg=PT35&dq=cine+parque+caro%C3%A7o+portalegre&source=bl&ots=ytPIKX_smY&sig=ACfU3U2sQ_0KJbPgXrZaPSQwEd40A0PGzQ&hl=pt-PT&sa=X&ved=2ahUKEwj14bvJgbuFAxUo_AIHHfGzDPs4ChDoAXoECAQQAw#v=onepage&q=cine%20parque%20caro%C3%A7o%20portalegre&f=false>;

7.4.24

Capitólio: um gigante salvaguardado

Hoje a paragem faz-se em Lisboa, mais concretamente no Parque Mayer, localizado na Avenida da Liberdade. 

Esta cidade expandiu-se de uma forma notável entre a 1ª e a 2ª Guerra Mundial, tornando-se numa cidade moderna. Na década de 1930, assistiu-se a um aumento exponencial da população, graças à migração oriunda de várias regiões do país, estimulando o desenvolvimento de bairros na periferia, em torno do centro histórico da cidade. O aparecimento destes bairros fez surgir espaços dedicados à nobre arte do cinema, diminuindo a sua concentração nas zonas mais nobres de Lisboa, como o Chiado, Rossio e Avenida da Liberdade.

O Cineteatro Capitólio, que vai ser abordado neste texto, apareceu por volta dessa altura, desafiando a convenção da época e alinhando-se com a estética modernista. A sua localização num local de variedades como o Parque Mayer, bem como as especificidades da sua construção, foram importantes para a sua aparência final.

No espaço do Parque Mayer, inaugurado em 1922, já existiam dois teatros, Maria Vitória e Variedades, faltando assim uma sala de cinema para entreter os lisboetas. Esse vazio foi preenchido com a inauguração do Cineteatro Capitólio, que ficou a cargo da Sociedade Avenida Parque, Lda., constituída por figuras importantes da época. Esta sociedade pretendia explorar o vasto terreno que adquirira aos herdeiros do milionário Adolfo Lima Mayer. Este imóvel foi construído no anterior local da Esplanada Egipcia, com diversas funções como teatro, cinema e música.

Planta do alçado principal do Cineteatro Capitólio – 1925/1929

(Leite, J., 2011)

Planta do alçado lateral do Cineteatro Capitólio – 1925/1929

(Leite, J., 2011)

Fases de construção do Cineteatro Capitólio – 1925/1929

(Leite, J., 2011)

Fases de construção do Cineteatro Capitólio – 1925/1929

(Leite, J., 2011)

O Arquitecto Luís Cristino da Silva, considerado um dos pioneiros do Modernismo na arquitectura portuguesa do Século XX, projectou este edificio entre 1925 e 1929, em estreita colaboração com o Engenheiro José Belard da Fonseca (responsável pela inovadora estrutura de vidro e betão na fachada principal). 


Arquitecto Luís Cristino da Silva (Cardoso, A. 2014) 


Engenheiro José Belard da Fonseca (Google)

Este imóvel foi inaugurado em julho de 1931 e destacou-se pelas suas novidades, nomeadamente a introdução de uma escala rolante que acedia a um terraço com 11 metros de altura, apropriada para a realização de diversos espectáculos, e de um dos melhores sistemas de som a nível mundial, da marca Bauer. Outra das inovações era a abertura do enorme salão para o exterior através das suas portas de vidros, que se abriam em faixas horizontais. A sua fachada original, de linhas verticais e horizontais, possuía um painel em vidro iluminado, erguendo-se como um farol, que atraía a atenção das pessoas.



Esplanada- terraço (Leite, J., 2011)




Entrada principal (Leite, J., 2011)


Sala de espectáculos (Leite, J., 2011)


Sala de espectáculos  (Leite, J., 2011)


Sala de espectáculos (Leite, J., 2011)

Este cineteatro foi remodelado em 1933, com o entaipamento das portas envidraçadas e a instalação de uma cabine cinematográfica no terraço-esplanada, para fomentar a realização de sessões de cinema ao ar livre. Dois anos depois, a própria sala de espectáculos foi remodelada, com a introdução de um segundo pavimento para balcão e camarote, aumentando assim a sua capacidade para 1400 lugares. Em 1966, voltou a sofrer uma nova remodelação graças ao empresário teatral Vasco Morgado, que aumentou a plateia e o balcão graças à remoção dos camarotes, melhorando a acústica e possibilitando um maior comodidade aos espectadores.

Fachada  (Leite, J., 2011)

Esplanada-terraço (Leite, J., 2011)

Balcão e camarotes (Leite, J., 2011)

Planta e preçário de 1953 (Leite, J., 2011)

Contudo, estas remodelações não impediram o declínio deste cineteatro, que começou a exibir filmes pornográficos até encerrar as suas portas definitivamente em agosto de 1990, por falta de público.


Declínio do Cineteatro Capitólio 


Declínio do Cineteatro Capitólio 


Declínio do Cineteatro Capitólio 

Este edificio, considerado um monumento por causa do seu valor histórico e artistico, foi classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto n.º 8/83, de 19 de janeiro, e beneficia de uma zona especial de protecção, através da Portaria n.º 529/96, de 1 de outubro.

Após o seu encerramento, o palco foi aproveitado pela Orquestra Metropolitana de Lisboa para ensaios, por causa da fabulosa acústica da sala.Também surgiu a hipótese de se transformar este edificio num museu dedicado ao cinema, acopolando-o à Cinemateca Portuguesa. Contudo, o seu destino continuou incerto durante largos anos, apesar das propostas de revitalização que iam aparecendo.

Várias propostas de revitalização do Parque Mayer surgiram no inicio do Século XXI, como o projecto do arquitecto Frank Gehry em 2004, que contemplava a demolição do Capitólio, por forma a dar lugar a novas estruturas. Para evitar esse cenário, um grupo de cidadãos conseguiu incluir este cineteatro na lista dos 100 edificios históricos mais ameaçados, feita pelo "World Monuments Fund" em 2006, descartando assim a proposta de Gehry. 

A C.M. Lisboa resolveu manter a este edificio como teatro em 2008, lançando um concurso público de reabilitação, de modo a restaurar o projecto original do Arquitecto Luís Cristino da Silva.

A proposta do atelier do Arquitecto Alberto Souza Oliveira foi a vencedora, porque pretendia preservar a identidade do edificio original e melhorar as suas funcionalidades, criando um espaço versátil que cumprisse com as normas de segurança europeias e que seguisse os padrões contemporâneos na organização de espectáculos.



Maquetas do projecto de reabilitação do Arquitecto Alberto de Souza Oliveira, de 2008 

O novo Capitólio foi inaugurado em outubro de 2016. Este edificio, que pertence à C.M. Lisboa, foi agraciado com o Prémio de Arquitectura Valmor e gerido durante cinco anos pela empresa "Sons em Trânsito", que foi responsável pela revitalização deste teatro através dos mais diversos espectáculos.

A versatilidade do novo Capitólio fica patente na sua capacidade para acomodar diversos tipos de espectáculos, quer seja em pé ou em lugares sentados, permitindo o posicionamento do palco no centro da sala. O terraço foi adaptado para diversos eventos, especialmente no Verão.



Novo Cineteatro Capitólio, inaugurado em 2016 

Em boa hora, este edificio foi salvaguardado, reabilitado e revitalizado, com o intuito de se adaptar aos padrões actuais e adequar-se a novas utilidades, por forma a injectar uma nova vida económica e social no Parque Mayer, tornando-o mais chamativo para as mais diversas gerações.

Apesar da sua reabilitação, o novo edificio do Capitólio não tem contribuido para injectar uma nova vida económica e social no Parque Mayer. A sua programação é parca e muito direccionada para um público que vai, entra e sai, não fazendo vida nos restantes espaços do Parque. 

Infelizmente, o Parque Mayer permanece inactivo, apesar da nova tenda com o Palco Ticketline e não falando no Teatro Variedades, que se encontra em fase de reabilitação, e que passou de 1000 lugares para 300 e tal lugares (aquando da sua reabertura).

Actualmente, o Teatro Capitólio encontra-se sob gerência da EGEAC.


Nova fachada do Cineteatro Capitólio, inaugurado em 2016 
 

FONTES:

ACCIAUOLI, M. (2012). Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX. Editorial Bizâncio. pp. 82-87;

CAETANO, M.J. (2018, fevereiro, 21). Teatro Capitólio com programação regular a partir de sexta-feira. Diário de Notícias. https://www.dn.pt/artes/teatro-capitolio-com-programacao-regular-a-partir-de-sexta-feira-9134645.html/;

CARDOSO, A.F.M. (2014). A comunicação do projecto à obra : reabilitação do Cineteatro Capitólio. [Dissertação de Mestrado, Universidade Lusíada de Lisboa]. Repositório das Universidades Lusíadas. pp. 71-119. http://repositorio.ulusiada.pt/handle/11067/1567;

EGEAC (s.d.). Capitólio. https://egeac.pt/espacos/capitolio/?doing_wp_cron=1707590408.9527080059051513671875;

LEITE, J. (2011, junho, 07). Cine-Teatro Capitólio. Restos de Colecção. https://restosdecoleccao.blogspot.com/2011/06/cine-teatro-capitolio.html;

RIBEIRO, M.F. (1978). Os Mais Antigos Cinemas de Lisboa, 1896-1939. IPC/Cinemateca Nacional. pp. 147-148;

SALGUEIRO, T. B. (1985). Dos animatógrafos ao cinebolso. 89 anos de cinema em Lisboa. Finisterra20 (40). pp. 379-397. https://revistas.rcaap.pt/finisterra/article/view/2062;

SIPA (2011, julho, 27). Teatro Capitólio. http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3129.